Castelo Rá-Tim-Bum - O Filme



Ah, Castelo Rá-Tim-Bum! Belas lembranças de quando eu era um pirralho inocente e que estudava de manhã, e como perdia os desenhos de manhã e de sábado (porque eu nunca acordava no horário certo, e quando acordava, passava outra coisa), e me contentava em assistir as séries com a péssima transmissão da TV Cultura pra cá. Castelo Rá-Tim-Bum, Rupert, Pequeno Urso, Viva Pitágoras, Bill e Bem, Turma do Pererê, e tantos outros programas feitos pra crianças abaixo de 7 anos que ensinavam alguma coisa e que era o que eu tinha e aproveitava isso. Provavelmente uma das série que eu mais gostava era Castelo Rá-Tim-Bum, junto com Rá-Tim-Bum e Rupert.

Quando era pequeno, eu não gostava e não conseguia assistir o filme do Castelo. Finalmente, após tantos anos, resolvi dar uma olhada.
Acompanhe-me nessa visita e se você não souber acertar A SE-NHA, não direi as palavras mágicas e você não poderá entrar NO CAS-TE-LO! PRIIIII!



Antes, um pouco de história. “Castelo Rá-Tim-Bum” foi uma série idealizada por Cao Hamburger. Antes de “Castelo”, Cao dirigiu dois curtas de animação, apenas. Depois da já citada série pra crianças, foi que a carreira de Cao começou a subir, e ele trabalhou no “Disney Club”, “Cidade dos Homens”, e escreveu e dirigiu “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias” e “Xingu”. Provavelmente “Castelo Rá-Tim-Bum” é a sua obra mais conhecida e amada, e talvez por isso tenha ganhado um filme em 1999, com argumento e roteiro final do idealizador da série, Cao Hamburger


O filme começa com Nino nos dizendo que a história que vai nos contar pode parecer estranha, mas é a mais pura verdade. Por um momento achei que ele iria contar a história da Segunda Guerra Mundial como o meu professor de História, mas depois ele volta aos trilhos.

A propósito, George, se estiver lendo isso (e sei que não estará, porque você trabalha demais), abraço aí, jóvi!

A história começa quando três crianças que perdem uma pipa dentro da área do Castelo, e entram pra pegá-la, quando são surpreendidos pelos moradores do local, Victor, Morgana e Nino, todos feiticeiros da família Stradivarius.

Logo depois, Victor explica ao seu sobrinho/aprendiz Nino sobre o alinhamento dos planetas. A cada 400 anos, os planetas se alinham, e os livros de magias deles recebem mais energia do cosmo. [inserir piada com Padrinhos Mágicos] Dr. Victor deposita muita esperança no Livro de Nino, porém o garoto enrola o tio para que a fiscalização do livro seja adiada, que é respondido com o clássico “Raios e Trovões!” do Dr. Victor.


...a propósito... Sabemos que Victor trabalha em algo, e é chamado de Doutor, até mesmo na série. Mas até onde me lembre, na série, nunca foi explicado qual exatamente é o trabalho dele... Aqui, ao que parece, ele é um professor de Universidade ou algo do gênero.

Enfim, após arruinar os sonhos de Dr. “Josso Ares Mago” Victor, Morgana tenta animar o garoto, ensaiando a Dança do Alinhamento, ou algo assim. Mas só faz o garoto se lembrar do seu Livro e que precisa trabalhar no mesmo.

Então somos apresentados ao Pompeu Pompílio Pomposo (ou Abobrinha) e seu fiel escudeiro, Rato. Desde que era pequenino, Abobrinha tem um sonho mau: derrubar o Castelo e fazer um prédio no lugar. (Quem entendeu a referência me abraça.) No entanto, seus esforços sempre são em vão. Mas ele faz uma aliança com Losângela, uma vidente que pode facilitar seu desejo.

Acontece que Losângela era da Família Stradivarius, mas foi banida da família e perdeu todos os poderes que possuía. O plano dela é simples: tornar Abobrinha o Prefeito e assim, ele pode expulsar os donos do Castelo e tomar a propriedade.

Claro, porque na cidade não existe outro terreno melhor pra construir esse prédio.

Abobrinha consegue adentrar-se no Castelo devido a um descuido de Nino, e agora que a confusão está armada, esse garoto terá que juntar seus amigos e viver altas aventuras pra sair dessa encrenca!
A narrativa do filme é bem orquestrada, mostrando os acontecimentos em um ritmo agradável. A história também é muito interessante, com detalhes como disputas na família, Conselho Universal de Bruxos, e até mesmo politicagens, mesmo que sutis.


O cenário é extremamente diferente da série. O Castelo é mais sombrio, mais gótico, com uma arquitetura mais complexa, e arrisco dizer que até mais psicodélico em certos aspectos. Essa mudança foi necessária pra combinar com a história ao estilo de narrativa do filme. Aliás, até a trilha sonora ajuda a criar esse clima de magia e mistério, com uma releitura da abertura clássica da série.

A trilha sonora em geral é competente, dando o tom certo no momento certo. Mas em determinados momentos ela parece ser genérica demais, e fica muito parecida com tantos outros filmes, perdendo um pouco de identidade própria. Felizmente são pouquíssimas as vezes que isso acontece, e não atrapalha o filme de forma alguma, e é compensada com uma belíssima trilha cantada.
Um dos aspectos positivos do filme é que eles mantiveram alguns atores originais da série, como Rosi Campos (Morgana), Sérgio Mamberti (Dr. Victor) e Pascoal da Conceição (Abobrinha/Pompeu Pompílio Pomposo).


Alguns personagens foram cortados, como Etevaldo, Caipora, Celeste, Tíbio e Perônio, dentre outros. Claro, porque nem todos seriam bem encaixados na trama do filme, podendo apenas criar elementos desnecessários e desprezíveis, mas alguns apenas foram adaptados, como o Relógio, o Porteiro e a Penélope, e as crianças Biba, Pedro e Zequinha, ou simplesmente foram levemente referenciados. Deixo vocês procurarem essas referências.
Foram criados personagens 100% exclusivos pro filme, como Losângela e Rato. No entanto, eles são essenciais pra que o filme tenha uma identidade própria e que o mesmo possa correr normalmente. Porém, um dos furos do roteiro é que depois, Rato desaparece sem mais nem menos, e esse fato não é explicado em momento algum.


As atuações são muito bem executadas, em especial de Marieta Severo como Losângela, que entra na personagem e parece se divertir ao máximo enquanto atua. Também destaco Matheus Nachtergaele como Rato. Ele e Abobrinha são tão exagerados que chegam a ser engraçados, e Rato chega a ser ainda mais engraçado que o PPP, mas sem roubar a cena do mesmo, ficando apenas complementando o vilão. Ele, aliás, tem algumas das cenas mais engraçadas lá pela metade do filme. Também adorei a atuação do garoto Diegho Kozievitch como Nino. A própria personalidade original do personagem foi totalmente modificada para algo mais sério, mais solitário, e até mesmo tímido, coisa que Diegho fez e não tornou Nino um total anti-social chato.

A propósito, Diegho fez Disney Cruj em certo tempo, como o personagem Sputnik. Sim, o carinha que chega misteriosamente num balão. Se você se lembra, provavelmente está velho. Bem vindo ao clube.


E também, eu adoro a Losângela como vilã. Ela é aquele tipo de vilão extremamente arrogante que faz toda a pose de poder e “AAHAHAHHA VOCÊ ESTÁ NA PALMA DA MINHA MÃO, SEU VERME!” mas mal sabe lutar, ou no caso usar os poderes, e pra isso rouba os feitiços dos outros. Isso acaba marcando o Nino, o que poderia ser do futuro dele.

Os efeitos visuais não são exatamente muito complexos, alguns deles são bem simples e a computação gráfica é pouco usada. Mas as CGs apresentadas, não são feias.

Da esquerda pra direita: Cacau, João e Ronaldo.
As crianças que "substituiram" Biba, Zequinha e Pedro.

Outro furo no roteiro, lá pela metade, onde Nino dorme na casa de João, e no outro dia João o apresenta à família. MAS QUE RAIO DE FAMÍLIA PERMITE ISSO, MEU DEUS? Deixa o guri dormir em casa... Aliás, O CARA NEM AVISOU! ERA PRA ELE LEVAR UMA MÃOZADA NO MEIO DA CARA! E no outro dia ainda DEIXAM O NINO SOZINHO NA CASA! CLARO, PORQUE UMA CRIANÇA NÃO TERIA CAPACIDADE DE ROUBAR ALGO DE LÁ, NÉ? BANDO DE ABESTADOS!

Há também outro lá pelo final, e que poderia ter sido facilmente consertado, mas provavelmente é um spoiler.


O que posso concluir desse filme? Bom... É um bom filme. Uma boa releitura de uma série clássica pra crianças. Tem lá os seus defeitos, mas também tem vários pontos positivos que os compensam. Cao Hamburger conseguiu pegar os elementos necessários pra contar a história que queria de uma série educativa, que não deixava de ser divertida. Mas ainda tem algo no ar, pra mim. Digo, parece muito a história de Shoutarou Ishinomori com seu “Skull Man”, depois tornado em “Kamen Rider” pra ser mais vendável. Quando assisti o filme, pareceu que a idéia original de Cao para “Castelo Rá-Tim-Bum” era essa do filme, cheia de mistérios, Conselho de Feiticeiros, disputas na família, politicagem, e um toque de cultura gótica. Mas se tornou em algo alegre e educativo. OU eu posso simplesmente estar “esticando demais a baladeira”, e Cao simplesmente quis contar a história do Castelo por outro ângulo, como em um universo paralelo ou algo assim. Como até agora não ouvi nada de Cao sobre esse tópico, esse fica sendo meu headcanon pra esse assunto.

Quando pirralho, não gostava muito desse filme, porque não lembrava em nada a série, e eu amava, e ainda amo a série. Mas agora que cresci, vejo que é uma releitura bastante inteligente, e que deve ser apreciada como tal. Mesmo com uma roupagem meio gótica/dark e talvez até adulta, tenho certeza de que crianças vão gostar. Assim como adolescentes ou adultos com uma alma de criança, assim como eu.

Agora, com licença, eu tenho um Castelo para derrubar.