Malévola

Dane-se o título, é fraco e sem inspiração.
Eu preferia ver o filme com o 50 Cent, pelo menos
era algo novo e inesperado.

Malévola foi o terceiro filme da Disney na era que eu já tou chamando de a Era dos Re's, precedido por Oz the Great and Powerful (2013), que foi bom; e aquela batida de helicópteros flamejantes caindo num prédio comercial em 2010, Alice no País das Maravilhas de Tim Burton.

Pro próximo filme da Era, eles usaram uma lógica simples. “Disney sempre quis fazer algo relacionado a Oz, já fizemos Oz the Great and Powerful, como podemos voltar a Oz sem de fato voltar a Oz…? JÁ SEI, USEM A FÓRMULA DE WICKED! Vamos fazer a ~história não contada~ da vilã boazinha, Malévola! Já que ela é parecida com a Bruxa Má mesmo...”

E o resultado está aqui. Malévola.




Eu tenho que admitir, não sou fã do filme A Bela Adormecida da Disney. A história é sem sal, os personagens são desinteressantes, e o ritmo é lento demais. As únicas coisas que eu lembro de ter gostado foi o estilo da arte, que lembra o de uma tapeçaria medieval, e a vilã, Malévola, porque ela de fato atuava de forma divertida, ela era como uma prima europeia da Bruxa Má do Oeste (até porque a cor da pele era semelhante, bem como as gargalhadas).

Embora eu não seja fã, eu admito que é um filme relativamente divertido, agradável, e esforçado. Embora quase me tenha feito dormir.

Então, sobre o que é Malévola?

Os primeiros 20~30 minutos do filme não são ruins. Tem um ar de filme de fantasia medieval, com fadas, criaturas da floresta, e árvores andantes do Senhor dos Anéis. Malévola é uma fada grandona com asas de águia e chifres, e bastante adorável, até. Ela encontra um guri chamado Stefan perdido na floresta, os dois viram amigos, se apaixonam, all the good stuff.

Se fosse o filme todo com Malévola pirralha,
seria um filme mais fofinho, pelo menos.

Mas o reino dos humanos e da floresta estão em guerra, e o rei oferece a sucessão no trono pra quem matar Malévola. Stefan leva as asas de Malévola, o rei acha que ela tá morta, Stefan vira o rei, e Malévola planeja sua vingança. Daí é a história que conhecemos, blablabla, aniversário da filha, blablabla, ela lança uma maldição. Mas as coisas começam a mudar a partir daí. Ao invés da terceira fada amansar a maldição, a própria Malévola o faz.


Daí pra frente o filme não só desconstrói, mas destrói tudo o que o filme original fez. As 3 fadas que tomavam de conta da princesa escondendo-a de tudo e de todos, proibindo até contato com gente de fora, agora quase esquecem a bebê exposta enquanto entram na casa, quase deixam ela cair de um penhasco. Elas são retratadas como imbecis, como estúpidas, do nível que nem pra alívio cômico servem.

E Malévola sabe desde o início onde tá a princesa e fica cuidando dela.

"You are so beautiful and nothing else!"

A história é tão fraca que parece que é uma fanfic de universo alternativo escrito pela Malévola. E é isso que o filme é, é um universo alternativo. O problema é que ele é vendido como se fosse o outro lado da história, como se ele coexistisse com o filme original, o que não acontece em momento algum.

E o filme falha por si só em alguns momentos. Por exemplo, tem uma cena onde Malévola entra no quarto de Aurora, invoca uns efeitos em CG, e grita pra tirar a maldição dela. Mas, como ela mesma disse, nada na terra pode tirar a maldição. De certa forma, faz sentido pra esse filme específico, porque mostra o arrependimento da personagem. Mas ela gritou e invocou magia e fez zoada e não acordou nem Aurora e nem as 3 fadas? Sério mesmo?

Oh, e as 3 fadas, que deviam viver em segredo. Uma delas tem mechas azuis no cabelo. Porque isso é muito discreto, claro.

Eu sei, parece cata-piolhagem, mas os personagens são tão planos, tão desinteressantes, que é impossível não notar essas pequenas coisas e não se sentir incomodado.


Em alguns momentos a atuação da Jolie de fato nos faz acreditar que ela é a Malévola. Nos trejeitos, no modo de falar, no olhar. Em outros, é uma atuação básica.

O filme tem sim momentos visualmente bons, belos, e memoráveis. Mas quando falha, falha com força. Malévola voando por aí? Daora. Criaturas da floresta? Pelo amor do John Lasseter, eu juro como achei que fossem criaturas de algum jogo de PS3, eu não sinto que posso tocá-las.

Fora os cenários, que quando são feitos em CG, faz parecer que eles estão TÃO desesperados em botar detalhes pra cinema e tvs de FULL HD 8K PLUS FROM HELL que chega a ser distrativo e angustiante.

Chegou atrasado pra E3.

Mas o que mais me irrita é que esse filme poderia ter sido BEM melhor. Digo, ok, conceitualmente, Malévola não é um personagem interessante. As motivações pra ela ser má são risíveis. O filme era fraco. Mas o que ele fez direito, fez direito. Tem personagens gostáveis (que ele fez o favor de torná-las insultantemente idiotas); tem momentos engraçadinhos; tem a atuação grandiosa da Malévola (não é à toa que ela é um grande antagonista de Kingdom Hearts, a mera presença dela evoca o mal). Mas ao invés disso, eles recorreram ao básico, à moda de fazer releituras (que eles ajudaram a popularizar), e fizeram sem uma gota de esforço ou paixão.

O filme poderia ser melhor se víssemos o desenvolvimento da personagem, algo na linha de A Última Legião.
...alguém viu A Última Legião? Alguém? Levanta o braço, por favor!

Enfim, eu não consigo falar muito desse filme, porque não tem o que falar. Eu consigo apreciar ainda mais o roteiro plano e fraco do filme original depois de ver esse, até o casal tem mais química do que o desse filme, e lembremos que eles tiveram centavos de diálogo e uma dança.


Hey, pelo menos os dois compartilham uma coisa. Quase me fizeram dormir.